Tempo

Vou parar de escrever aqui, não sei se definitivamente, se durante um tempo. Ultimamente o futurartist tem sido apenas um registo do que vejo, do que leio, do que faço – e não lhe tenho dedicado a originalidade e tempo pensado que um blog merece.

Sempre me lembro de ter blogs e diários e gosto de rever o que fiz, mas não sinto energia para continuar, não agora. Já partilhei um sítio aqui com a J., já contei aventuras estrangeiras aqui (apagado) e aqui, e depois assentei por cá, e tenho-o mantido desde 2012.

Obrigada a quem lê fielmente, o que sempre surpreende. Até breve!

Sobre os livros

No primeiro clube de leitura a que me juntei, conheci uma rapariga que tinha lido 30 livros num ano. Achei impressionante e decidi tentar o mesmo. Isso foi o ano passado, e consegui com pouco esforço. Tinha acabado o doutoramento, o meu envolvimento nas minhas outras atividades também mudou, então dei por mim com um tempo que não tinha há muito tempo e que não sabia como usar. Li muito e descobri que é mesmo uma atividade extraordinária.

Este ano aumentei a parada para 40 livros, e li 46, e senti que fui uma leitora diferente. Experimentei mais estilos, li escritores novos, li muitas escritoras de nacionalidades diferentes, e senti que ler é mesmo viajar, porque a cultura do escritor contamina o conto, e isso é maravilhoso.

Experimentei uma plataforma nova chamada Storygraph que faz uns gráficos engraçados (é possível fazer uma importação a partir do GoodReads). Tenho pena que não faça o gráfico do género e da nacionalidade.

Aqui vão os livros aos quais deis 5 estrelas: Ducks, How to be Perfect, Circe, Breasts and Eggs, A Gorda, Educated, A Origem, Castro Laboreiro, entre Brandas e Inverneiras.

E aqui o mood de 2023

Não sei se vou ler por objetivo doravante, penso que não. O objetivo deu-me o balanço que precisava e agora vou ao sabor da maré.

1 Second Everyday – Dezembro 2023, o último

Dezembro luminoso com muito trabalho em noites frias, com encontros, com passeios, com aqueles dias que adoro entre o natal e o ano novo. Tenho sido muito indisciplinada nas gravações, e decidi parar. Foram quase 10 anos de registos diários, tendo sido o primeiro em Dezembro de 2014!


Bright December with a lot of work on cold nights, with meet ups, with walks, with those days that I love between Christmas and New Year. I have been very undisciplined when recording, and I decided to stop. There were almost 10 years of daily records, the first being in December 2014!

A música do mês de Dezembro 2023

No meio de tanta coisa diferente que ando a ouvir, esta foi a mais repetida. Estou a ler um livro sobre música que me faz ouvir músicas de Dua Lipa e Lil’ Nas e Public Enemy, o que tem sido um exercício de descoberta muito divertido. Esta música não foi aconselhada no livro, só foi sugerida pelo Spotify e até que gostei.

Trilogia, Jon Fosse (2018)

Ainda bem que voltei a Fosse com este livro, para tirar o gosto do desvio (quase literal) que foi A Shining.

A escrita de Fosse é intrigante porque é simples, já o disse, mas tem uma camada de qualquer coisa que não sei explicar. Meio mágico, meio folclore, meio bíblico, meio nórdico antigo. Estes três contos foram lançados isoladamente e editados em conjunto em 2018. Contam uma só história, em épocas diferentes. A história de dois apaixonados que decidem fugir da sua vila à beira mar, e são confrontados com o bulício e malvadez de uma grande cidade. O amor entre eles é puro mas o que têm de fazer para sobreviver, não é. E isso vai persegui-los e eis que temos mais uma história muito triste, sobre perda, luto e amor eterno.

A Shining, Jon Fosse (2023)

E como estava à mão, e me disseram que ia ler estas 50 páginas em duas horas, li este livro de seguida. Não foram duas horas, nem foi de perto tão prazeroso como a leitura anterior. A escrita de Fosse já não me apanhou desprevenida, e este livro nada mais é do que a descrição de um sonho. Há melhor autor para descrever um sonho? Talvez não, mas trata-se apenas de um homem que decide levar o carro ao calhas, virando à esquerda e à direita e acaba por ficar preso num caminho na floresta. Todo o devaneio do seu deambular pela floresta, o que vê e o que sente é detalhado, repetido, circulado, e voltamos ao mesmo sítio. Não comecem por aqui se quiserem experimentar Jon Fosse.

Aliss at the Fire, Jon Fosse (2010)

Esta escrita é como nada que alguma vez tenha lido. As primeiras quarenta páginas não têm uma paragem que seja, somos sugados imediatamente para uma tropelia de pensamentos e uma sequência de eventos que só nos faz parar no final. À boa tradição norueguesa, Jon Fosse é um exemplo vivo de stream of consciousness, mas aqui parece mais da inconsciência porque estamos ora aqui, ora noutra vida, noutros tempos.

A escrita apesar de ser um chorrilho de pensamentos, não é nada complicada, é até bastante básica e simples, sem palavras sofisticadas – tal qual falamos com nós mesmos. E ainda bem que a parte formal é simples, porque a camada conceptual é outra história. Este livro não tem linha temporal, e cruza três histórias trágicas da mesma família que sempre viveu à beira mar, e sempre teve acidentes com barcos. Começa com a narradora em 2002 a lamentar a morte do marido que aconteceu nos anos 70, numa noite escura e de temporal. Porque é que ele foi? Porque é que ia tantas vezes? Porque é que ela ficava parada à espera dele? E quando estamos na cabeça dela, entra um “pensa ele” e já estamos na cabeça dele. Da primeira vez que acontece parece uma gralha, mas rapidamente aprendemos que é assim mesmo, há que estar atento. Há que compreender que quando o marido olha para a margem e vê uma fogueira, já estamos a ver a fogueira da tetravó, e que quando olha para um barco, pode ser o barco dele ou pode ser o barco do tio-avô que morreu afogado a tentar apanhá-lo.

É mesmo original, e esta história em particular é muito bela, permanentemente triste e sobre a perda e o luto. É entrar num lugar que normalmente é único.

Achei tão interessante não ter linha temporal, que até pensei que uma visualização interessante para o livro seria marcar os saltos entre as três histórias, como uma anotação de quem passa a bola para quem. Fica a ideia, para quando o reler.

Orkestret, Mikkel Munch-Fals (2022-)

Esta é série é bem gira e engraçada para quem aprecia aquele humor nórdico que tem sempre um travo incómodo. Acompanha o dia a dia da gestão e performance de uma orquestra de renome, a orquestra nacional da Dinamarca. Os músicos detestáveis, os sindicalistas, os charmosos, os que consomem drogas, as audições, os concertos. E também tudo o que acontece por trás para suportar uma orquestra: as contratações, as conversas difíceis, os supostos assédios, a wokeness e as consultas de Psicologia. Quero seguir!

– Disponível no FilmIn Portugal

1 Second Everyday- Novembro 2023

Jantares caseiros com amigos e as suas crianças, envelhecer, muitas noites frias no sítio do costume, um reencontro feliz a lembrar que dantes é que era, uma caminhada, cantares polifónicos, e uma ida ao Bom Jesus numa janela sem chuva.


Homemade dinners with friends and their kids, getting older, many cold nights in the usual place, a happy reunion remembering how cool it used to be, a trail, polyphonic singing, and a trip to Bom Jesus in a day without rain.