Category: filmes

Old Dads, Bill Burr (2023)

Tem momentos lamechas, mas é um filme engraçado na maioria do tempo. Gosto do humor completamente cáustico do Bill Burr, e este filme é um reflexão engraçada sobre o que é ser pai mais tarde na vida, e viver entre gerações com as quais não se sente ponto em comum.

– disponível na Netflix

Portrait of a Lady on Fire,  Céline Sciamma (2019)

Filme francês, passado numa ilha lindíssima e isolada na Bretanha, que conta a história da relação entre duas mulheres, uma que saiu de um convento após o suicídio da irmã, e herdará o seu destino de casar com um homem em Milão, e outra que é pintora e contratada para pintar um retrato da outra para este ser enviado ao potencial marido – em segredo.

O filme é muito silencioso, e claro que vive de olhares, segredos e da relação musa e artista que se intensifica ao longo dos dias.

Compreendo as camadas, mas não gostei particularmente.

– disponível no FilmIn

Just Mercy, Destin Daniel Cretton (2019)

Este filme é baseado num livro escrito pelo advogado que se especializou em casos de pena de morte. Conta a história de um dos seus primeiros casos, e de como lutou para ter financiamento externo para salvar do corredor da morte os seus clientes que seguiam todos os mesmo perfil: negros, ou pobres, ou ambos.

Mudou-se para o estado do Alabama, e fica na história como o advogado que tirou o primeiro negro do corredor da morte no início dos anos 90. Ainda hoje há inúmeros casos de prisioneiros com sentença de morte que são inocentes, e são vítimas do racismo mais gritante e institucionalizado.

É um bom filme, estas histórias sensibilizam-me sempre.

Medida Provisória, Lázaro Ramos (2020)

Esplêndida distopia passada no Brazil de hoje. Sai uma medida provisória que dita que todos os brasileiros de “melanina acentuada” devem ser devolvidos aos seus países de origem. O programa chama-se “Resgate-se já”, como forma de ajudar estes brasileiros a encontrarem-se a eles próprios – em África. A medida é encarada com humor e descrença, mas rapidamente entra em ação e inferniza a vida dos negros do país. O filme faz um brilharete a lidar com racismo, resistência e luta, é mesmo muito bom e interessante.

Marighella, Wagner Moura (2021)

Quando se entra no reino dos filmes brasileiros, começa-se a querer muito mais. Ao ver este filme dei por mim a pensar como deve ser bonito ser brasileiro. É uma generalização, mas a forma como encaram a vida é bela. Este filme é um retrato de Marighella, um poeta guerrilheiro que defendia a ação armada e violenta para atacar a ditadura instaurada no Brasil.

Passa-se nos finais dos anos 60, e acompanha esta fação mais radical constituída por estudantes comunistas, apaixonados pelo Brasil e apaixonados pela liberdade. O filme é duro, é difícil, é esplêndido. Seu Jorge faz um papelão como Marighella, mas o líder da polícia não lhe fica atrás. Há embustes, muita tortura, e um amargo familiar. Os métodos para abafar chamas de esperança são os mesmos em todo o lado. Sabia muito pouco sobre a ditadura brasileira, fiquei a saber mais, e fiquei a admirar esta figura inspiradora. Muito triste saber que lutaram tanto nos anos 60 e apenas em 1985 caiu o regime no Brasil.

Libertat, Clara Roquet (2021)

Este filme fez-me lembrar muito este livro. Retrata duas meninas a lidar com a adolescência numas férias de Verão numa belíssima praia na Catalunha.

É bem giro porque percebemos imediatamente as duas camadas evidentes: a da família de bem, proprietária da casa, e a da cuidadora da Avó, Rosana, cuja filha regressa da Colômbia após a morte da sua avó.

As duas raparigas aproximam-se e tornam-se amigas. Como uma contamina a outra é a história central, mas a mais interessante é a que acontece ao redor: a da empregada que não pode fazer luto, que é culpada de muita coisa e que é obrigada a dançar na festa, quando tudo o que lhe apetece é chorar.

Bad Roads, Natalya Vorozhbit (2020)

Uma adaptação de uma peça de teatro que conta 4 histórias, todas no contexto da guerra do Donbass entre a Rússia e a Ucrânia. O filme é também muito teatral, e muito tenso, a viver muito de silêncios e de olhares. Todas as histórias têm o seu tanto de ridículo, caótico e desumano. Há sempre um elo mais forte que exerce a autoridade sobre o outro. Há uma história (a terceira), particularmente difícil – é também a mais longa, e a que tem mais mestria na manipulação psicológica de uma vítima para com o seu raptor.

Mas é um filme um pouco difícil, é triste, é pesado, e fica connosco – a guerra destrói tanta coisa, os seus anéis propagam-se a cada espaço corriqueiro do quotidiano.

Paris 13, Jacques Audiard (2021)

Quero avisar a navegação que corro o risco de soar muito pedante doravante porque assinamos de novo o FilmIn e vai haver uma enchurrada de filmes europeus.

Este foi o primeiro que vimos, num chuvoso dia de aniversário. A preto e branco, inspirado nas novelas gráficas de Adrien Tomine, é um filme muito interessante e com uma iluminação muito bonita e diferente por vezes. Vemos três jovens: Emilie que vive na casa da avó, trabalha num call center e decide alugar um dos quartos para ter um dinheiro extra; Camille, um professor de liceu a trabalhar na agregação que lhe aluga o quarto; e Nora, uma rapariga vinda de Bordéus que decide estudar na universidade aos 32 anos, mas que é perigosamente parecida com Amber Sweet, uma celebridade porno junto dos universitários.

Tudo isto vai unir, mais ou menos por acaso, estas três personagens que acham que são uma coisa bem definida – uma chinesa que se quer desvincular do peso dos laços familiares, um intelectual que se refugia da frustração profissional com relações sexuais, e uma rapariga que simplesmente quer voltar a estudar e a ser independente – mas são uma coisa bem diferente.

Listen up, Philip, Alex Ross Perry (2014)

Uma comédia negra sobre um escritor em início de carreira tão obcecado com ele próprio que só não denigre quem é igual a ele, neste caso, um escritor conceituado igualmente narcisista. Neste encontro de narcisos, vemos quão destrutivos conseguem ser, o que os leva a serem, no final, solitários e tristes.